Traducción / Translation


Acompanhe aqui os relatos, dicas, fotos e vídeos da Expedição 4x1 Retratos das Américas!



Spot

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O muro entre dois mundos

Ficha 4×1

Data: 16/11/2012 à 16/11/2012

Saímos de: San Diego, Califórnia – EUA

Distância total: Aproximadamente 30km.

Onde dormimos: Nas barracas! No camping Popotla RV Park em Playas de Rosarito.

Pneu Cheio: A receptividade dos mexicanos desde os guardas da fronteira.

Destino final: Destino: Tijuana, Baja Califórnia – México

Tempo de viagem: San Diego à Fronteira, 20 min. Processos burocráticos: 2h30

O que comemos de bom: Os deliciosos Tacos do peixe Marlin, muito comuns na Baja Califórnia, no restaurante Chewin’s em Tijuana!

Pneu murcho: A falta de informação, e sinalização em ambos os lados da fronteira.

Trajeto: Tomamos a rodovia I-5 S.

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Madalena nos dá as orientações rumo à fronteira entre EUA e México

Rumamos ao sul de San Diego em busca de uma capinha para o novo celular do Gustavo. Dois dias atrás ele havia comprado o recém-lançado modelo da Nokia em substituição ao seu antigo aparelho. Poucas lojas no mundo já teriam aquela capinha, mas, com certeza, ali nos EUA nós encontraríamos.

Era assim que deixávamos para trás a beleza dos rios, vales, montanhas e lagos dos EUA. Onde animais vagueiam livremente por parques muito bem organizados num remanescente de natureza ainda selvagem. Deixávamos para trás os confortos e conveniências de um país muito bem estruturado. Estruturado, porém, talvez até demais.

O país que nos serve de modelo para tantas coisas, como o excelente sistema educacional ou a riqueza de seus estilos musicais, parece estar carente de um legado histórico vivo em seus centros urbanos. Afinal, salvo um bairro ou outro, ficou, em alguns de nós, a impressão de que muitas das cidades norte-americanas parecem pré-fabricadas. Como se pudessem ser vendidas nas prateleiras de uma Tok Stok ou IKEA qualquer e contendo um kit de redes fastfood dentro; como num ‘Lego’, prontas somente para serem encaixadas. Tão simples de montar quanto é hoje encontrar um motel, um Wal-mart ou um McDonald’s ao longo de uma de suas vastas rodovias. 

Seguimos mais ao sul pela estrada Interestadual 5 e se a Madalena não nos mostrasse que faltavam apenas 17 minutos para chegarmos a Tijuana, nunca iríamos imaginar que estávamos prestes a cruzar de país. Sinalizações apontavam retornos e saídas somente para bairros ainda dentro dos EUA. Era estranho, pois aos poucos o horizonte mudava de visual. Era como se quisessem esconder aquela vasta colina, com milhares de casinhas coladas umas nas outras, que a cada instante parecia mais próxima. Mas era impossível esconder, pois estávamos prestes a cruzar nada mais nada menos do que a fronteira mais movimentada do mundo!!! E foi somente perto da divisa que uma grande placa anunciava: estávamos entrando em território mexicano!

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A grande placa junto à bandeira mexicana

Percorremos mais algumas centenas de metros após a placa e logo entramos em uma estranha e curta estrada murada que separava os dois países. Esse caminho nos jogava em uma enorme barreira com mais de 8 guaritas que lembravam o pedágio da Rodovia Imigrantes (que liga São Paulo à cidade de Santos). Ali era a alfândega mexicana, onde guardas bem armados escolhiam aleatoriamente alguns veículos para revisão antes da entrada no México. E é claro que nossa “discreta” amiga Tanajura foi escolhia. Algumas perguntas foram feitas e, logo que descobriram que éramos brasileiros, o sorriso brotou em seus rostos. Facilmente liberados, seguimos adiante mais alguns metros e, para nossa surpresa, já conduzíamos tranquilamente pelas ruas de Tijuana. Mas peraí! Alguma coisa estava errada, não?! Vocês devem lembrar que, em cada fronteira, dávamos baixa em nossos documentos no país que saíamos, e carimbávamos os passaportes no país de entrada. E ainda tinha a autorização de rodar com a Tanajura… aquilo ali tinha sido muito fácil e estávamos sem nenhum carimbo ou autorização.

A confusa e movimentada fronteira entre San Diego (EUA) e Tijuana (México)

A confusa e movimentada fronteira entre San Diego (EUA) e Tijuana (México)

Mas era isso mesmo, tanto tinha sido fácil passar para o lado mexicano, quanto deveríamos, de fato, ter feito os processos de saída e entrada em cada país. Vamos explicar:

Como mencionamos, aquela fronteira é super movimentada em ambos os sentidos: no sentido México –> EUA, há o caso de inúmeros operários mexicanos que saem de manhã cedo para trabalharem em San Diego, quanto o caso de mexicanos mais abonados que aproveitam o vizinho rico para realizarem compras de roupas e eletrônicos (mais ou menos como muitos de nós, brasileiros, costumamos fazer); já, no sentido EUA –> México, os gringos cruzam para Tijuana, no estado mexicano chamado de Baja Califórnia, em busca de suas belíssimas praias e de suas animadas festas noturnas. Tudo, claro, a um preço muito acessível.

Dessa forma, acordos e restrições que não entendemos muito bem, permitem que residentes de Tijuana(México) e do sul da Califórnia(EUA) possam permanecer no país vizinho, por até 72 horas. Acontece que, por ignorância nossa ou pela própria falta de uma sinalização mais adequada por parte de ambos os países, nos enquadraram no mesmo direito de cruzar livremente. Mas como não ficaríamos no México por somente alguns dias, precisávamos voltar – para um lugar que ainda não sabíamos onde – e fazer toda a documentação.

Tínhamos que voltar, mas ainda estávamos “curtindo” aqueles primeiros minutos novamente em terras latinas. Um saboroso tempero emanava das fumaças de uma comida típica sendo feita ali nas movimentadas e estreitas ruas de Tijuana. Placas de publicidade em espanhol nos davam as boas vindas, todas acima das pequenas e coloridas casas de alvenaria – construídas próximas umas das outras. E uma música dançante emanava de bares e veículos se misturando às vozes dos agitados vendedores ambulantes de pele morena… Uma cena que muito lembrava um bairro de periferia de uma grande metrópole brasileira. Mas depois de tantos meses nos 2 únicos países ricos do continente, era bom estar de volta à realidade a que fomos acostumados a viver! E aquela Tijuana, que conheceríamos melhor depois, estava longe da descrição exagerada de alguns americanos e suas mídias. Um exemplo crasso desse exagero tivemos na noite anterior ali mesmo em San Diego. Uma garçonete do restaurante onde jantamos, chegou a nos recomendar deixarmos o carro do lado americano e tomarmos um taxi para visitar Tijuana. Ela disse que nosso carro seria roubado rapidinho por ser de placa estrangeira, e que inclusive poderia até ser roubado pelos próprios policiais mexicanos! Tadinha, mal sabia ela da Expedição e que não haveria a menor chance da Tanajura não cruzar o México conosco.

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As casinhas mais simples na estrada da Baja Califórnia Norte, algumas dezenas de quilômetros ao sul de Tijuana – México

O êxtase de estar em terras mexicanas, no entanto, duraria pouco. Pegamos o primeiro retorno em direção à fronteira na tentativa de encontrar uma aduana que pudesse nos orientar. E, de repente, a grande surpresa: havia uma fila quilométrica de carros para entrar nos EUA! Estávamos, literalmente, sem saída. E em meio à exaustiva fila, éramos costumeiramente abordados por vendedores ambulantes que, só por estarem ali em número tão numeroso, nos prenunciavam: a espera seria longa. E foi! Mais de 1 hora e 45 min depois finalmente alcançávamos os mau-morados guardas da aduana norte-americana.  Depois de explicarmos nossa história (uma versão resumida do que é a expedição e que internamente apelidamos de “papo da carretera” – essa última pronunciada num finíssimo portunhol! :) ) e sobre o porque estávamos reentrando nos EUA o humor melhorou. Após inúmeras perguntas e uma boa canseira de 35 minutos os guardas deram baixa no sistema dos EUA e nos liberaram para seguir de volta para o México. Pegamos um atalho interno na fronteira e logo estávamos de novo nas guaritas mexicanas. Mais uma vez bem recebidos, dessa vez explicamos o equívoco e uma simpática guarda federal nos acompanhou para os pagamentos das taxas de turismo mexicana ($24,50 dólares americanos por pessoa) e para os procedimentos de entrada no país. Pronto, em menos de meia hora estávamos finalmente liberados! Só faltava passar na agência bancária nacional mexicana, há poucos quilômetros dali, para fazermos os procedimentos da Tanajura (pela qual também tivemos que pagar $50 dólares americanos). Estávamos famintos e o simpático atendente nos indicou um restaurante local para jantarmos. Com cadeiras e mesas de plástico, uma grande televisão que passava lances de futebol e a simpatia dos garçons (principalmente quando descobriram que éramos brasileiros) o saborosíssimo Chewin’s nos lembrava os típicos restaurantes simples do nordeste brasileiro. Como sugestão do garçom arriscamos aquele que se tornaria um dos pratos favoritos da Expedição no México: as Quesadillas de Marlin (do peixe Marlin Azul), iguaria muito comum ali na Baja Califórnia. O clima quente e agradável de uma sexta-feira à noite pedia uma cervejinha para acompanhar e celebrar a tão aguardada entrada em terras Mexicanas!

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Inúmeros ambulantes são o prenúncio de que entrar nos EUA é algo muito demorado!

O muro que separa a moderna San Diego da “subdesenvolvida” Tijuana é o perfeito simbolismo da separação entre duas realidades fisicamente tão próximas, mas socialmente tão antagônicas. O numeroso e constante fluxo de pessoas por aquela fronteira revela a ainda profunda relação de interdependência que existe entre essas duas nações. Seja através da migração diária de trabalhadores e estudantes mexicanos para os EUA ou de mercadorias e turistas americanos para o México. Seja do medo que vivem os audazes ‘coiotes’ ao transportam ilegalmente pessoas em busca do ‘American Way of Life’ ou da volúpia de jovens americanos – nos seus 18 a 21 anos – que lotam a vida noturna mexicana em busca do ritmo latino e da liberdade de poderem beber antes da maioridade de seu país.

Quanto a nós, nos encontrávamos muuuito contentes! Especialmente pela receptividade dos mexicanos até ali. :)

Estávamos de volta à América Latina das ‘Veias Abertas’, como definido pelo escritor Eduardo Galeano. Mas que ainda sim manifesta a alegria, humildade e espontaneidade tão peculiares à nossa gente!

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Elementos católicos e hispânicos (legado do período colonial) marcam a arquitetura das cidades mexicanas.

 

6 Comentários

  • Wilson Says

    Olá, Vocês solicitaram um visto para entrar nos EUA ? É um tipo de visto especial para entrar via terrestre ? Foi Muito Burocrático conseguir o documento ?

  • Wilson Says

    Ol´pa, Vocês solicitaram um visto para entrar nos EUA ? É um tipo de visto especial para entrar via terrestre ? Foi Muito Burocrático conseguir o documento ?

  • Lívia Moraes Says

    Poxa, que bom ver um lado que eu nem imaginava da Tijuana. Confesso que quando li o título do post, corri para ver a impressão de vocês, pois recentemente li uma matéria falando que essa é uma das fronteiras mais perigosas do mundo! Bom saber que a simpatia mexicana é bem presente, mesmo sendo um lugar a se tomar cuidado… Boa viagem de volta a vida latina! Bjs

    • 4x1
      4x1 Says

      É isso mesmo Lívia. Ficamos muito pouco ali (foi somente um dia, pois logo seguimos para Playas de Rosarito – arredores de Tijuana) mas de qualquer forma fomos muito bem acolhidos na fronteira, nos comércios e restaurantes que passamos. E foi assim pelo México todo!

  • Vejam o quanto uma simples linha imaginária que separa os países nos mapas transforma a vida das pessoas em extremos. Céu ao inferno, cada um deles com suas maravilhas e problemas. Quando as pessoas se derem conta de que essas linhas que separam os países nos mapas não existem de fato, talvez possamos nos tratar todos como seres humanos e o progresso seria divisível pela população do mundo, independentemente da sua raça, credo, cor e posição social.

    • 4x1
      4x1 Says

      Verdade Rogério! É meio chocante ver um muro assim dividindo nações ainda mais tão interdependentes. Esperamos que um dia isso não exista mais.

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