Data: 26/10/2012 a 29/10/2012
Saímos de: Cooke City, Montana – EUA (Yellowstone)
Distância total: 887 km
Onde dormimos: Casa do Helaman (1 noite) e no motel Econolodge.
Pneu Cheio: A receptividade das brasileiras que nos deram uma aula sobre a cidade e sua relação com a igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
Destino final: Salt Lake City, Utah- EUA
Tempo de viagem: aproximadamente 7 horas
O que comemos de bom: Comida chinesa por apenas 6 dólares!!
Pneu murcho: A estrutura do motel Econolodge que deixou a desejar.
Trajeto: Saímos de Cooke City pela US-212 e depois tomamos a US 89 entrando pelo Yellowstone National Park, onde tomamos um “atalho”. Seguimos pela US 20 entrando no estado de Idaho e cortando-o sentido Sul pela I-15 que leva até Salt Lake City, no estado de Utah.
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Com o avanço da neve no noroeste dos EUA, decidimos acelerar a ida para os parques mais ao sul do país e aproveitar suas útimas semanas sem neve. Ao sair de Yellowstone seguiríamos para os parques a sudoeste de Utah e a dúvida, portanto, era: passar por Salt Lake City (em Utah) ou por Denver e as Montanhas Rochosas (no Colorado). Como já havíamos percorrido longos trechos das Rochosas desde o Canadá, uma olhada no Ralf* foi o suficiente para a decisão ser tomada: Salt Lake era nossa próxima parada.
* Para quem não se lembra, Ralf é o apelido que demos ao nosso livro-guia dos EUA
A intenção era ficarmos somente um dia em Salt Lake e logo seguir viagem. Entretanto, uma certa movimentação na ruas por volta das 21h, algo incomum nos EUA, nos chamava a atenção. Uma oração fora feita ao final de uma festa de Halloween Latina. Algo naquela cidade era diferente do que estávamos acostumados. E um grupo de brasileiras, uma equatoriana e um hondurenho estavam dispostos a nos apresentar essa nova realidade.
Saímos de Cooke City com tempo nublado e a temperatura abaixo dos 5°C. Éramos acompanhados por altas montanhas com seus cumes cada vez menos nevados ao passo que a temperatura aumentava mais a sul. Chegamos em Salt Lake famintos por volta das 20h e a primeira boa impressão: nosso termômetro marcava 16°C e não havia ventos! Era a primeira vez dentro dos últimos 35 dias que tínhamos temperatura acima dos 15°C! Saímos do carro contentes, e sem casacos, para jantar!
Uma longa conversa na mesa, algumas risadas e traçávamos o plano de saída para o dia seguinte, após o almoço. Saímos do restaurante e uma coisa nos chamava atenção. Era uma sexta-feira e já passavam das 21h, mesmo assim muitas pessoas de várias idades andavam pelas ruas. Achamos estranho, pois isso não era algo comum nos EUA. Como era final de semana pré-Halloween pensávamos que poderia ter algo a ver com isso. Seguimos em busca de um lugar para vermos o movimento e tomarmos umas cervejas antes de dormir. Demos uma volta pela cidade e avistamos uma sorveteria com pessoas fantasiadas. Paramos. Os fantasiados entravam em um estabelecimento, ao lado da sorveteria, que formava uma grande fila. Perguntamos o que era e a resposta veio em espanhol: “es una fiesta de Halloween latina”. Caramba! Que estranho! Gostamos da ideia e resolvemos entrar. Como não tínhamos fantasias, vestimos umas camisas da seleção brasileira e fomos de time de futebol! Original hein?! Hahaha… Bom para uma festa de última hora estava valendo. Logo percebemos que não era vendida qualquer bebida alcoolica. Repleta de latinos, as músicas variavam entre estilos Peruano, Mexicano, Venezuelano, Colombiano, entre outros. Todos dançavam animados e logo pessoas vinham interagir com os 5 rapazes que chamavam a atenção com aquelas camisas com cor de marca texto. Horas depois e a maior roda da festa era de… brasileiros! Claro! Dentre outros, ali conheceríamos as 3 Sara(s) (duas brasileiras e uma equatoriana), Giulli, Leylyane e o hondurenho Helaman. Dançamos, conversamos e ao final da festa… uma oração de agradecimento!!?? Isso realmente não era comum. Ficamos curiosos e para nossa surpresa: a festa era de ‘mórmons’! Assim como nossos novos amigos, Salt Lake City é uma cidade composta, em sua maioria, por pessoas que frequentam a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Igreja de JCSUD). Sabendo que não havíamos lugar para dormir, o Helaman abriu sua casa para passarmos a noite.
A vedade é que o termo ‘mórmon’ – como hoje são popularmente chamados aqueles que frequentam a Igreja de JCSUD – foi criado por pessoas que não frequentam a igreja, para se referirem a seus membros. O motivo de darem-lhes esse nome está ligado ao ‘Livro de Mórmon’ – o livro considerado sagrado pelos frequentadores daquela igreja – no qual é retratado um outro testamento da vida de Jesus Cristo. Portanto, segundo a Igreja, o nome a que seus membros deveriam ser conhecidos é Santos dos Últimos Dias (SUD).
A cidade que está assentada dentro do Salt Lake Valley (vale do Lago Salgado) é cercada de duas grandes cadeias de montanha a leste e oeste, e recebe esse nome justamente devido ao Great Salt Lak (Grande Lago Salgado) localizado a noroeste da cidade. Sua fundação, bem como do Estado de Utah, está associada à vinda dos Mórmons para a região: devido à forte perseguição a seus membros e às doutrinas da Igreja de JCSUD, Brigham Young liderou a ida dos Mórmons para o Oeste americano após a morte de Joseph Smith Jr., o fundador da igreja. E foi ali dentro do vale de Salt Lake que escolheram o local – onde hoje está Salt Lake City – para serem a ‘nova Sião’ (em inglês: the new Zion). Sob a liderança de Brigham Young (que na altura não somente se tornou lider da igreja, mas também líder do território) ali desenvolveram a cidade através de um sitema de colheita comunitária.
Por estar situada numa encruzilhada para aqueles que partiam do Leste para o Oeste americano em busca de fortunas – na conhecida Corrida do Ouro da Califórnia (California Golden Rush) – Salt Lake City tornou-se um ponto de parada para os viajantes e beneficiou-se do intenso comércio gerado e da especulação de terras. O grande desenvolvimento fez com que, em 1856, Salt Lake se tornasse a capital do território de Utah, que posteriormente se tornaria mais um estado da União.
E sob a mentoria de uma das Sarah(s), partimos para conhecer um pouco mais dessa história da moderna cidade de Salt Lake City, da interessante doutrina dos membros da Igreja de JCSUD e como eles fizeram sua vida na cidade.
Dirigimo-nos para a Temple Square (praça do Templo) onde está localizado o principal templo da igreja e onde, em suas imediações, encontram-se os principais prédios (históricos e administrativos) da igreja. Visitamos o museu que conta a história da igreja, bem como o enorme centro de visitantes que, através de textos, imagens e vídeos são passados alguns valores e doutrinas da igreja. Lá também está uma maquete do interior do templo principal da Igreja de JCSUD: o Salt Lake Temple – que possui entrada restrita aos membros da igreja. E foi sob o auxílio de duas simpáticas missionárias brasileiras que visitamos a Beehive House (Casa da Colmeia) onde viveu o ex-líder da Igreja: Brigham Young.
Não dá para negar que essas visitas serviram para a gente como um grande momento de reflexão espiritual e social. Motivado, principalmente, pelo espírito de fraternidade e carinho demonstrado por todos os membros da Igreja que muito bem nos acolheram em todos os momentos e visitas. Aprendemos, também, sobre as missões que muitos membros da igreja realizam uma vez na vida, bem como sobre o complexo centro de produção e distribuição de alimentos e doações para pessoas desprivilegiadas. Interessante, também, foi a visita ao Family Story Library (biblioteca da história das famílias), onde a Igreja JCSUD presta uma enorme colaboração à sociedade, montando o maior acervo sobre as histórias das famílias que habitaram o planeta! Isso mesmo o ‘Family Search’ (busca de famílias) – disponível também online – está em desenvolvimento para catalogar o maior número de pessoas possíveis, a fim de montar o maior acervo de árvores genealógicas do mundo! Quem quiser buscar algum parente ou familiar distante e quiser conhecer mais sobre a história de sua família vale dar uma checada no site deles para ver se sua família já está lá catalogada.
Mas com certeza o ponto alto da visita à cultura Mórmon foi o espetáculo ‘Luz de las Naciones – Sus Promesas’ realizado no Auditório da Igreja de JCSUD. Com capacidade para mais de 21 mil pessoas, o auditório estava com mais de 80% de suas cadeiras ocupadas. Foi bonito de ver aquele público miscigenado, no qual americanos usando tradutor simultâneo aplaudiam e cantavam junto com latinos de diversas nacionalidades. Todos contemplando o festival em homenagem a cultura das civilizações indígenas e hispânicas, da América Latina. O espetáculo contava com danças, vestimentas e estilos musicais de mais de 8 países latinos das américas, permitindo aos latinos valorizarem e reconhecerem suas origens, ainda que vivendo em um país diferente. Todos aplaudiam e vibravam num espetáculo que, além de celebrar a música, celebrava a aceitação e tolerância entre as nações! Foi simplesmente fantástico!!!
Na manhã seguinte ao festival uma nova grande surpresa: Acordamos cedo para, pontualmente as 9h, estarmos no Tabernáculo da Igreja de JCSUD onde se apresenta semanalmente o Mormon Tabernacle Choir (Coral do Tabernáculo Mórmon). Um silêncio absoluto pois a apresentação de 30 min chamada Music and the Spoken Word é transmitida, ao vivo, nacionalmente, e sendo o programa sequencial transmitido a mais tempo no mundo!!!
No final da tarde, terminamos todo o companheirismo recebido com um picnic no Ensign Peak. Com uma trilha de aproximadamente 20 min, é um picos com uma privilegiada vista do centro de Salt Lake. De lá fechamos nossa visita contemplando a vista aérea da cidade com seu belíssimo capitólio e o Templo de Salt Lake, ao fundo!
Preferências religiosas a parte, a visita à Salt Lake City foi realmente uma inspiração espiritual para a Expedição 4×1! Somos muito gratos a Sarah Albuquerque, Sara Cardenas, Sara Rocha, Giulli, Leylyane e ao Helaman pelo carinho e hospitalidade. Serão amigos que teremos para o resto de nossas vidas!
Para ver mais fotos da nossa passagem por Salt Lake City clique aqui.
13 Comentários
Estava fazendo uma busca sobre turismo em Salt Lake e caí nesse maravilhoso post. Tenho que dizer que estou encantada com tudo que escreveram e principalmente com as fotos! Irei visitar Salt Lake no próximo mês e fiquei ainda mais empolgada depois de ler seu relato da viagem! Uma coisa que me chamou a atenção foi a excelente qualidade das fotos! Sou uma grande entusiasta pela fotografia e tenho feito alguns cursos. Pretendo me aprofundar na área e ficaria muito feliz se pudesse compartilhar informações sobre o equipamento que foi utilizado para fazer essas lindas imagens! Qual camera e principais lentes foram utilizadas? Parabéns pelo excelente trabalho! Estou adorando o site! Desde já agradeço!
Sou SUD, moro em Campinas. Estou encantada com o que acabei de ler. Salt Lake é um sonho para nós SUD que moramos longe, pois é onde se encontra maior parte de nossa história. No entanto, qualquer pessoa pode visitar uma unidade da Igreja em qualquer lugar do Brasil ou do mundo, sempre serão bem vindos.
Muito obrigado pelo carinho Elizabeth!
Ola Pessoal!
Começo dizendo que sou membro da Igreja de JCSUD e trabalho com turismo, imaginem só minha alegria em ler este post de vocês?!
Vocês reuniram duas coisas MEGA importantes pra mim em uma matéria só.
Pretendo ir em breve para Salt Lake City e estava buscando algumas informações na internet e devo dizer que encontrei maravilhosas referências aqui. ..Não posso me esquecer das imagens, é claro. A fotografia é ESPETACULAR.
Há mais uma coisa que gostaria de ressaltar: Tenho que reconhecer que ainda não tinha visto alguém que não é membro da Igreja falar com tanto respeito. Não estou dizendo que as pessoas só falam mal ou algo assim (realmente tem as que falam, mas…), não é isso. É que você reconheceram e demonstraram um respeito fora do comum à coisas que são muito valiosas e sagradas para nós e gostaria de agradecê-los por isso.
Enfim, parabéns à vocês, são ótimos!!!
Serei uma acompanhante a assídua do blog!!!
Oi Alinne!! Ficamos muito felizes com o seu comentário! É extremamente gratificante saber que conseguimos retratar de maneira correta o universo da Igreja de JCSUD e de Salt Lake CIty! O relato está intimamente associado a aos dias e receptividade que tivemos. São visitas e passagens como essas, nas quais conhecemos diferentes culturas, crenças, realidades, que enriquecem nossa experiência e tornam esta viagem única.
Agradecemos os elogios e esperamos que continue acompanhando e gostando dos nossos relatos!!
Grande abraço, Expedição 4×1.
5 brasileiros no meio de uma festa de halloween latina a meia noite.
“Hi, are you brazilian?”
“Yes.”
“Po, maneiro. Da onde?”
haha e foi assim que tudo comecou…
“Vamos. vamos la p roda de brasileiros!”
E a galera pedia forro. DJ ate prometeu uma playlist especial de musicas brasileiras pra proxima festa(pena que nao deu pra ir) e agradeceu a vibe unica do povo brasileiro.
Pelo menos rolou um Michel Telo e o Creu que ja ta antiga no Brasil (as favoritas brasileiras dos EUA – fato!)
Oi Giulli! Finalmente estamos aqui respondendo o seu comentário!!!!! hehehe
Muito bom reviver esse momento, ou essa conversa, que foi o início de uma experiência fantástica e inesperada que tivemos em Salt Lake! Valeu ae E bora pra praia amanhã pra vc levar um pouco do sol da riviera maia pra neve de salt lake!!!
Sou SUD, moro em Cuiabá e sou amiga da Leylyanne que participou dessa recepção maravilhosa. Estou encantada com o que acabei de ler. Nunca fui a Salt Lake, mas quero dizer que a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Ultimos Dias é a mesma em qualquer parte do mundo. Salt Lake é um sonho para nós SUD que moramos longe, pois é onde se encontra maior parte de nossa história. Mas qualquer pessoa que quiser conhecer pode visitar uma unidade da Igreja em qualquer lugar do Brasil ou do mundo, sempre serão bem vindos.
Muito obrigado pelo comentario, Dejanira! Temos certeza que seríamos muito bem recebidos em qualquer lugar do Brasil, assim como fomos em Salt Lake. Abraco!
Gente, recebi mais um postal! Muito obrigado a vocês pelo carinho! Um forte abraço em todos!
É um grande prazer! Nós que agradecemos pelo apoio que sempre tem nos dado! Forte abraco
A cultura popular latina é de fato muito rica em sons e cores, além do talento natural que seus seguidores têm para expressá-la. Contudo, fico surpreso em conhecer a importância agregadora que essa religião exerce nos latinos que vivem em Salt Lake City. Segundo literatura existente, existe mais de 14 milhões de mórmons espalhados pelo mundo, mas eu imaginava que a grande concentração de adeptos seria de americanos nativos mesmo. Vivendo e aprendendo. Muito bom esse convívio de você com as culturas e com os aspectos espirituais.
Foi uma surpresa para nós também, Rogério. Cada vez aprendemos mais com essa viagem! Grande abraco!