Ficha 4×1
Data: 22/11/2012 à 25/11/2012
Saímos de: Sierra de San Francisco, BC – México.
Distância total: 230km
Onde dormimos: Ficamos acampados na nossa barraca na areia da praia por três noites.
Pneu Cheio: A interação com as pessoas e com a natureza.
Destino: Mulegé, Baja Califórnia – México.
Tempo de viagem: 3,5 horas.
O que comemos de bom: Um arroz com legumes e um marshmallow aquecido no fogão!
Pneu murcho: Dificuldade para tomar banho.
Trajeto: Descida da serra + Carretera Federal 1
Desde que havíamos entrado no México, passamos a ter diversas oportunidades de acampar e aproveitamos a grande maioria. Além de ajudar a reduzir custos, com o passar do tempo, passamos a nos sentir cada vez mais à vontade na nossa barraca. Ficamos mais ágeis para montá-la e desmontá-la, observamos que muitas vezes os colchões dos hotéis não são tão confortáveis quanto os nossos e a barraca sempre nos dava a oportunidade de desfrutar das noites estreladas e do nascer do sol sem precisar sair dela. E afinal, é sempre bom deitar a cabeça no próprio travesseiro, não é mesmo? Pois foi exatamente o que fizemos em “El Coyote”, um paraíso perdido cercado por montanhas repleta de cactus, de águas calmas e pássaros que, com bastante frequência, cruzavam o céu ensolarado para nos dar bom dia.
Descobrimos “El Coyote” por acaso. Estávamos vindo da Serra de São Francisco, rumo a Mulegé, cidadezinha com um pouco mais de 3.000 habitantes, com importância histórica para região em função da Compagnie de Boleo, uma empresa canadense de mineração que ajudou no desenvolvimento da região, além da missão de Santa Rosalía de Mulegé, a terceira de toda Baja California. O lugar em que dormiríamos seria a “Playa Requesón”, recomendada pelos amigos viajantes do 1.000 dias, em função de sua beleza e tranquilidade. Para nossa infelicidade (ou felicidade), o acesso à praia estava um complicado e a praia uma pouco suja, com pedras e madeiras espalhados em função de um recente furacão que havia passado por ali. Assim surgiu El Coyote, lugar em que tivemos uma das mais agradáveis experiências de camping e vamos contar pra vocês agora.
Chegamos lá num fim de tarde, depois de algumas horas dentro do carro. Ao entrar na praia, cujo acesso era feito direto da rodovia, avistamos alguns outros veículos, algo entre 8 e 10. Cada uma deles, tinha ao lado uma estrutura de palha, um cubo de aprox. 3mx3m que era utilizado para diferentes finalidades, sendo uma deles, muito criativa e que descreveremos logo mais. Com essa palafita e levando em conta o fato que já havíamos ficado boa parte do dia no carro, resolvemos usar nossos mantimentos e “conhecimentos” culinários para preparar o nosso próprio jantar. No cardápio, macarronada ao molho de tomate e queijo parmesão, enquanto para sobremesa, comemos marshmallow aquecido no próprio fogãozinho que levamos conosco, já que as madeiras que encontramos por lá estavam molhadas e não tivemos sucesso em “fazer” fogo. Uma refeição simples, prática e saborosa, que ao som da água do mar e com a vista para um céu limpo e repleto de estrelas se tornou ainda mais especial.
Na manhã seguinte, após uma caminhada na curta extensão da praia (800m), já conhecíamos um terço dos nossos vizinhos. Primeiro, em uma das extremidades da praia, um casal de senhores canadenses muito simpáticos que estavam sentados em cadeiras, próximo ao seu trailer, observando os pássaros tomando água num recipiente que a senhora encontrou jogado no lixo. Ela estava super contente em ver que a ideia de reutilizá-lo deu certo. Alguns passos de volta, na direção da Tanajura, e fomos abordados por um casal de viajantes de Oregon, que estavam na estrada há algumas semanas em um carro pequeno, conhecendo e explorando a Baja Califórnia, no México. Trocamos algumas dicas sobre campings e lugares interessantes para se conhecer, como sempre fazemos com os inúmeros aventureiros que encontramos pela estrada. Um pouco depois do nosso reforçado café da manhã, com frutas, yougurte, cereais, e sanduíche, conhecemos Sandra e Pe, um casal de holandeses, que viajavam num dos maiores e mais robustos veículos que vimos ao longo da expedição. Era grande como um caminhão e preparado para off-road como um carro de rally. Com sua cor meio bege, com pneus enormes, às vezes lembrava um tanque de guerra. Vão ficar 1 ano na estrada até retornar para Holanda,, mas deverá ser um retorno rápido, pois o plano é vender a casa, levantar mais grana e continuar na estrada!
Depois dessas interessantes interações com outros viajantes que muitas vezes servem de inspiração para nós, fomos explorar uma das montanhas que cercam a praia. Sem um caminho bem definido, fomos formando ali na hora, nossa trilha em meio aos cactos gigantes, até conseguirmos atingir uma parte mais alta da montanha, de onde conseguimos avistar o sol que custava a atravessar as grandes paredes de terra. Mais uma vista privilegiada de “El Coyote”, dessa vez com o Sol como protagonista. O dia foi passando e tudo que fizemos foi ler, curtir o visual e bater uma bolinha ao lado da palafita numa área com terra batida. Enquanto brincávamos por ali, fomos abordados por um senhor de aparência distinta. Gary era super em forma para sua idade, (descobrimos que tinha 72 anos), usava cabelo até os ombros e uma faixa na cabeça. Nos contou que já morou no Brasil, (Rio de Janeiro e Brasília) por alguns meses nos anos 70 e é super fã do nosso país. Hoje Gary é pesquisador de aves, mais especificamente corvos e frequenta “El Coyote” há quase 30 anos, pois ali existem espécies em observação. Em outras épocas, ao invés de dirigir sua pick up, Gary pedalava por 4.000km para chegar até a praia. Fez isso durante anos até que a idade deixasse a tarefa um pouquinho mais complicada. Sua alegria e emoção em falar do Brasil ficou ainda mais intensa ao darmos a ele um chaveiro com a bandeira do Brasil. Ver a sua empolgação com nossa expedição nos tocou profundamente e nos deu mais motivação ainda para aproveitar essa oportunidade única que estamos tendo.
Depois de dar um pulo na cidade para jantar, voltamos para nossa barraca de onde pudemos mais uma vez curtir um céu recheado de estrelas. Na manhã seguinte, enquanto andávamos na beira d’agua conhecemos nosso vizinho imediato, que logo nos ofereceu seu caiaque. Precisávamos de mais de 1, mas como muitos dos viajantes acampados ali tinham e já conhecíamos a metade deles, não foi tarefa difícil conseguir mais caiaque. Mais de uma hora remando, com parada para snorkel por 20 minutos, onde vimos poucos peixes, várias estrelas do mar, e até uma concha fechada com marisco dentro.
No começo da tarde, fomos convidados por Gary para conhecer seu museu de vida marinha. O que seria isso??? Quando chegamos lá, ficamos surpresos em ver a transformação que ele havia feito em sua palafita. Haviam prateleira de ponta a ponta com diversas recordações de fósseis, conchas, ouriços… Enfim, tudo que ele já via encontrado ao longo dos 30 anos de visitação a El Coyote. Lá ele deu 2 conchas para cada um de nós, conchas iguais as que ele tinha na “faixa de cabeça” que ele usava naquele dia”.
Depois da surpresa que tivemos com Gary, demos um pulo no mercado para comprar gelo, açúcar e limão. Adivinhem por quê? Estávamos levando conosco uma garrafa de cachaça desde os Estados Unidos e vimos ali o lugar ideal para apreciar uma boa caipirinha. Em pouco tempo, o futebol estava mais divertido e leve.
Chegava a hora do sol de despedir e dar espaço as outras estrelas que cobriam a noite, iluminando nosso jantar. Resolvemos mais uma vez cozinhar e dessa vez um prato um pouquinho mais elaborado: Arroz com legumes, purê de batata e salsichas. Delicioso!!!
Logo que acordamos na manhã seguinte, tomamos um café rápido, nos despedimos de todos ali e demos um último adeus à “El Coyote”, mas com a esperança de um dia voltar para aquele paraíso em terras mexicanas.
Se quiser ver mais fotos da nossa passagem por El Coyote e arredores, clique aqui!
4 Comentários
ENDOSSO AS PALAVRAS ABAIXO DO NOSSO AMIGO JOÃO ROGERIO…..
DARIA TUDO PARA ESTAR SABOREANDO A “TAL ” SALSICHA NESSE LUGAR MARAVILHOSO!!!!!
FICO FELIZ POR ESTAREM CRUZANDO TANTA GENTE INTERESSANTE AO LONGO DA JORNADA.
BJS E MARIA CONTINUE PASSANDO NA FRENTE!
Valeu Geyza! A praya El Coyote foi de fato um dos lugares mais especiais da Baja por esses fatores naturais e inter-pessoais!
Beijao!
O valor da vida está de fato nas coisas simples e nas pessoas que conseguem se aperceber como um céu estrelado, um nascer e pôr do sol são tão magníficos. O conforto e o luxo nos agrada no dia a dia turbulento nas cidades, mas esquecemos que esses espetáculos proporcionados pela natureza estão ao acesso de todos e Deus maravilhoso!
Exatamente Rogério!! Cada vez mais temos aprendido a valorizar essas coisas que costumamos não valorizar no dia-a-dia de nossa rotina nas cidades. É um valor que queremos carregar conosco para o resto de nossas vidas!