Ficha 4×1
Data: 21/11/2012 à 22/11/2012
Saímos de: Bahía de Los Angeles, Baja Califórnia (BC) – México
Distância total: Aproximadamente 300km.
Onde dormimos: Nas barracas dentro do único hotel ali da Serra.
Pneu Cheio: Poder presenciar mais um parque arqueológico da origem do homem americano em meio a tão vasto deserto, cultivado por um povo humilde e trabalhador.
Destino final: Sierra de San Franisco, Baja Califórnia Sul (BCS) – México
Tempo de viagem: Aproximadamente 5 horas com paradas, inclusive em San Ignacio.
O que comemos de bom: Foi nossa primeira experiência comendo feijão no café da manhã!
Pneu murcho: Infelizmente notamos um certo descaso do governo com a atual situação do parque. Faltam alguns caprichos. Necessitariam também melhorias para conservação da entrada, das placas explicativas, incremento nos textos explicativos e um renovo no próprio tour que é oferecido.
Trajeto: Seguimos sempre pela Carretera Federal 1 (México 1) sempre nos guiando pelas placas e orientações de locais. Para chegar à Serra pedimos orientação em San Ignácio, onde fica o INAH (Instituto Nacional de Antropología e Historia).
Cercada por dois mares que recortam a península em incontáveis praias e baías, a Baja Califórnia, espantosamente, também abriga em seu estreito interior um deserto seco e de condições extremas. Com baixa pluviosidade e ventos muito fortes, o deserto El Vizcaíno hospeda um abundante número de espécies animais e vegetais que se adaptaram a essas condições e renderam-lhe o título de Reserva da Biosfera pela Unesco. Mas não é só isso! O deserto El Vizcaíno esconde, em seu interior, mistérios da vida humana datados de mais de 3.000 anos!!
Saíamos da bahía de los Angeles após o café da manhã. Íamos atrás de melhores informações sobre a Sierra de San Francisco e das famosas pinturas rupestres escondidas dentro de suas covas. Foram centenas de quilômetros percorridos a sul e entrávamos em nosso segundo estado mexicano – a Baja Califórnia Sur – quando fomos recebidos por uma imensa vegetação seca, solo pedregoso e cactáceo e o trecho mais acidentado da Baja, cercado por altas serras e montanhas.
A primeira parada era no município de San Ignacio para colhermos mais informações de como fazer a visita ao sítio arqueológico da Sierra de San Francisco. Nossas pesquisas, principalmente do blog do 1000 dias pelas Américas, nos apontavam que necessitávamos de uma permissão antecipada para visitar as “cuevas” onde estavam as pinturas. Era pouco antes das 16h quando paramos no INAH (Instituto Nacional de Antropología e Historia) para tirarmos nossas dúvidas e comprarmos os ingressos do passeio à um dos mais conhecidos sítios da região: a Cueva del Ratón. Embora esta seja a mais tradicional visita, o INAH nos mostrou que existem outras visitas que podem ser feitas para se ver as pinturas rupestres, alguns destes, até com duração de 3 dias, inclui montagem em uma mula que leva o visitante para dentro da serra num longo trecho de descida e depois acampa-se ali mesmo na natureza do local. Realmente parecia muito interessante! Mas devido a nossa restrição orçamentária e nosso longo roteiro que ainda tínhamos definido pela Baja, optamos somente pela simples visita à Cueva del Ratón.
Voltamos alguns quilômetros ao norte pela estrada México 1 e entrávamos na estrada asfaltada que leva para dentro das serras do deserto El Vizcaíno. Aquele caminho que conduz pela vastidão plana do solo ressecado e cactáceo, segue em direção ao imponente paredão no qual está situado a Sierra de San Francisco.
Percorremos o trecho final de poucos quilômetros muito acidentados e chegávamos no rústico, e único, hotel ali da Sierra. Impecavelmente limpo e muito bem arrumado, o hotel é hoje principalmente mantido pela dona Yandira, quem nos recebeu. Mas devido a nossa constante busca por menores custos decidimos dormir na barraca e somente apreciar a comida feita pela própria Yandira ali na cozinha do pequeno hotel. A temperatura cai bastante durante a noite, mas nada comparado às noites frias do Alasca! Hahaha Fomos dormir cedo.
No dia seguinte por volta das 9h conheceríamos o senhor Jose que seria nosso guia na visita à cueva del Ratón. A cova recebe este nome devido a uma de suas principais pinturas provavelmente de um veado, no qual os antigos habitantes pensavam ser um grande rato, que lhe renderam a alcunha de ‘ratón’. As pinturas datadas ali foram provavelmente feitas pelos povos Cochimi, provenientes da América do Norte, e são de muito excelente qualidade para os padrões internacionais. Estão datadas entre 1100 e 1300 a.c. e foram encontradas no século XVIII por um jesuíta missionário de nome Francisco Javier, em sua passagem pela região em busca da colonização dos povos dali primitivos. Mistérios e crenças dão um ar de fábula a alguma das pinturas: crenças tradicionais dizem que os desenhos foram feitas por homens gigantes, uma vez que algumas das pessoas representadas tem mais de 2m! Elas também apontam um conteúdo místico-religioso com homens que parecem feiticeiros. Mas a maioria das pinturas apontam cenas de caça e diversos animais da região. Devido a escassez de mais informações no local e a termos restringido nossa visita a somente aquela cueva, em menos de 1 hora já estávamos de volta ao hotel.
O hotel e a própria cueva del Ratón ficam nos arredores do pequeno povoado do Rancho de San Francisco. Cerca de 100 pessoas vivem por ali e, segundo nos informaram, há ainda outros ranchos menores ali na serra. Alguns de seus moradores trabalham como guias, enquanto outros se dedicam para atividades de subsistência da região. Por volta das 7h30, uma curta caminhada de 5 minutos (ainda antes da visita à Cueva del Ratón) desde a rústica hospedagem até o centrinho do rancho, nos permitiu apreciar mais de perto a rotina daqueles habitantes.
Uma humilde e colorida igrejinha dá as boas-vindas. Casinhas humildes estão espalhadas ao redor do único colégio ali do povoado. Naquela hora da manhã, há quem esteja regando as coloridas flores de seu pequeno jardim e há quem esteja varrendo a entrada da casa. Pai e filho tocam as cabras pra dentro do cercado enquanto meninos e meninas brincam de bola no pátio do colégio. Nitidamente éramos estranho àquela realidade, mas mesmo assim todos nos saudavam com um sorriso e um ‘buenos dias’.
Mas estranho mesmo foi ver, no regresso daquele curto passeio, uma daquelas cabras muito assustada amarrada no tronco de uma árvore. E quando voltamos da cueva del Ratón, horas depois, só encontrava-se ali a corda que a amarrava, algumas de suas vísceras e o sangue derramado que deixava um rastro até a cozinha da hospedagem. Nosso espanto há algo tão trivial para realidade deles, nos revela o quanto realmente somos garotos urbanos!
Era mais uma experiência que cumpria seu papel em nossa contínua transformação.
Clique aqui para ver mais fotos da Sierra de San Francisco!
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Garotos Urbanos, é por isso que as verduras, legumes, raizes e sementes ganham cada vez mais espaço na culinária mundial.