Mudança de planos: Enviando a Tana para os EUA
Desde o início do planejamento da nossa viagem, um dos pontos mais críticos seria a travessia da América do Sul para a América Central. Esta foi a primeira questão que levantamos quando surgiu a ideia maluca de dirigir até o Alasca. Seria possível dirigir o caminho inteiro até o extremo norte do continente? Atravessar o Darién Gap, parque nacional que liga Colômbia e Panamá por terra não é uma opção viável. Não há uma estrada que atravesse o parque e a região é bastante perigosa, já que é utilizada como esconderijo de traficantes de drogas e das FARC. Dessa maneira, as opções hoje se resumem a enviar o carro por mar.
Mas como fazer isso? Em nosso roteiro inicial, contávamos com o funcionamento de um ferry entre Cartagena de Índias (Colômbia) e Colón (Panamá). Os governos dos dois países lançaram notas oficiais ressaltando a importância deste projeto, que estava previsto para inaugurar no dia 10 de maio de 2012. Assim, a travessia entre os dois países demoraria cerca de 12 horas e custaria algo em torno de US$350 para o carro e US$99 por pessoa (ida e volta). Era uma solução perfeita, considerando que o processo de exportação do carro, que seria a única alternativa, é algo extremamente burocrático, caro e lento. O mesmo trajeto que pelo ferry seria feito em questão de horas, teria a previsão de chegada em cerca de duas semanas quando o assunto é exportação temporária. E ainda há de se contar com possíveis atrasos do navio cargueiro.
Já se passaram mais de dois meses desde a nossa partida e o ferry não se sabe o porquê, mas ainda não funciona. Sendo assim, teríamos que continuar do jeito mais difícil, exportando o carro de navio – na ideia inicial, de Cartagena pro Panamá e, assim, cruzar a América Central. No entanto, sem a agilidade do ferry, perderíamos de 15 a 20 dias em relação ao que havíamos planejado anteriormente entre resolver todas burocracias, esperar a chegada do navio e ainda cruzar a América Central. Considerando que nosso calendário para cruzar o Alasca antes do gelo impedir nossa passagem (fim de setembro/meados de outubro) estava bastante apertado, tínhamos que pensar em alternativas o quanto antes. Ainda no Brasil, começamos a analisar as opções. Contatamos diversos agentes que trabalham com este tipo de exportação, cotamos preços e levantamos todas as informações que precisávamos para tomar a decisão de onde e como enviaríamos nosso carro para além do Darién Gap. Tínhamos uma série de pontos a serem levados em consideração;
1) De onde mandar o carro? Dado que o ferry em Cartagena não era uma opção, por que não enviarmos o carro diretamente da Venezuela? De Maracaibo, por exemplo? A resposta era simples, enviar de Maracaibo sairia bem mais caro por questões logísticas. Uma outra opção que encontramos seria tentar embarcar a Tanajura em pequenos navios de carga que partem regularmente carregando café e outros produtos agrícolas de Santa Marta, cidade colombiana a 230 km de Cartagena, até o Panamá. Como não é o core business dessas empresas foi difícil encontrar alguma que tivesse as informações corretas de datas e custo. Não conseguiríamos ter certeza de nada antes de chegarmos lá, o que já seria relativamente tarde. Então também descartamos esta opção. A Tanajura sairia de barco de Cartagena mesmo.
2) Para onde? Este foi o ponto de discussão mais crítico. Dependendo do roteiro da viagem, alguns aventureiros costumam fazer este envio para o porto de Colón, no Panamá de onde seguem pela América Central e México, até os Estados Unidos; outros enviam diretamente para os EUA, normalmente para a cidade de Miami, Flórida. Tínhamos diversos fatores a serem levados em conta, mas de modo geral, podemos resumi-los em dois grupos: custo (Quanto gastaríamos para enviar o carro até o Panamá e seguir dirigindo para os EUA? Quanto custaria enviar diretamente para os EUA?) e tempo (Quando partiria o navio? Quanto tempo demoraria para chegar? Chegaríamos ao Alasca com as estradas abertas?).
Depois de algumas pesquisas e análises preliminares concentramos nossos esforços em duas opções de envio, todos eles partindo de Cartagena. A primeira consistia no que a maioria dos viajantes sobre rodas faz: enviar o carro para Colón no Panamá e seguir viagem pela América Central e México. A segunda seria enviar diretamente aos Estados Unidos. Nesta opção, levantamos os possíveis portos de destino: Miami-FL e Houston-TX (mais usuais), além de Los Angeles-CA ou Seattle-WA (sobre os quais não limos nenhum relato de viajantes). Pensamos no nosso trajeto e no timing em relação a poder dirigir até o Alasca. Como estamos bastante sensíveis a tempo, pensamos que a melhor solução, no caso de enviar diretamente aos EUA, seria exportar o carro diretamente para a costa oeste, onde estão concentrados nossos pontos de interesse no roteiro. Dessa maneira ganharíamos alguns dias e não só poderíamos chegar ao Alasca em tempo hábil, como também poderíamos aproveitar o fim de verão na Califórnia.
Considerando a Costa Oeste, Los Angeles ou Seattle seria a melhor saída? Com as datas de partida e chegada dos navios, além dos custos de envio em mãos, estreitamos ainda mais nossas opções. A ideia de enviar para a costa leste dos EUA consistia em exportar a Tanajura de navio, e enquanto ela estivesse a caminho (algo em torno de 20 dias, sendo que em 10 deles o navio estaria parado no Canal do Panamá), alugaríamos um veículo alternativo para fazer a costa oeste até que a Tanajura voltasse para nosso colo. Em termos de logística, Seattle fazia mais sentido, uma vez que poderíamos voar para o sul da Califórnia e seguir viagem em carro alugado até lá, enquanto que em Los Angeles teríamos que voltar parte do caminho. Dessa maneira, como a diferença de custo não justificava a perda de tempo, excluímos Los Angeles dos planos.
E agora, Panamá ou Seattle? Em termos de custo, enviar para o Panamá sairia bem mais barato no fim das contas. Gastaríamos cerca de US$890 para enviar o carro, enquanto enviando para Seattle sairia US$2.200. Além disso, no segundo caso teríamos custos adicionais com passagens aéreas mais caras e aluguel de um outro carro. Já em termos de tempo, enviar para os EUA direto faz bem mais sentido. O tempo que levaríamos para cruzar América Central e México (estimamos entre 12-15 dias, os quais passaríamos basicamente dormindo, dirigindo e cruzando fronteiras), mais o tempo que teríamos para conhecer a costa oeste, além de corrido, comprometeria nossa chegada ao Alasca. Enquanto que na outra opção, por mais que o navio demorasse bastante para chegar à Seattle, poderíamos aproveitar este tempo livre para conhecermos a costa oeste dos EUA. Sempre há o risco de o navio atrasar, mas este estaria presente em ambos os casos.
De maneira geral, o custo nos apontava para um lado enquanto o ganho de tempo e seus benefícios nos apontavam para outro. Fizemos as contas e preferimos não comprometer nossa passagem pelo Alasca e ainda aproveitar o verão na Califórnia, ainda que a um pagando um preço alto por isso. Vamos mandar a Tanajura para Seattle.
3) Como? Finalmente, com ponto de partida e destino definidos, tínhamos apenas que decidir se enviaríamos nosso carro por RoRo ou dentro de um container. Pelo RoRo o carro viaja em campo aberto sujeito a todo tipo de influência externa, enquanto que dentro do container, aparentemente estaria mais seguro. Acontece que a diferença de custo é bastante significante entre as duas opções (+- US$1.000). Pelo que conversamos com agentes de exportação, geralmente o RoRo não traz problemas ou sérias avarias ao veículo. Decidimos então economizar e assumir este risco.
Mudamos os planos e seguimos viagem, a Expedição não pode parar. Vamos enviar a Tanajura de navio de Cartagena até Seattle, em uma viagem que deve durar 20 dias. Enquanto isso, voaremos para Los Angeles, onde alugaremos substituto temporário para a Tana, e seguiremos pela estrada até Seattle aproveitando o verão da costa oeste dos EUA. O México e a América Central ficarão para a volta, quando passaremos por lá fora do período de chuvas!!! O que faz ainda mais sentido!
Sentiremos falta da Tanajura nestes dias sem ela e temos certeza que do lado dela o sentimento é o mesmo. Mas tudo pelo bem da viagem, afinal, temos que aproveitar ao máximo.
23 Comentários
Pingback: Tanajura e Sua Jornada Marítima até os EUA | 4×1
Rapazes! boa sorte com o “desvio” temporário da viagem. A separação da Tana trará um novo tempero ao relacionamento de vocês.
Oi Hélida, obrigado pelo comentário! Podemos dizer que o tempero já está diferente….agora temos um carro alugado fazendo as vezes de Tana…o Nome dele é Besouro! Em breve falaremos sobre ele. Grande abraço.
Olá , meninos !!
O recado , hoje, é especial para o GUSTAVO ……
Querido , desejamos a você toda felicidade possível neste mundo !! Que você realize todos os seus sonhos( um, sabemos que já está se realizando…), que a viagem de vocês seja um sucesso absoluto e que você tenha sempre muita saúde e a proteção Divina , que N.Sra sempre te acompanhe e te guarde sob o seu manto. Seja feliz, muito feliz !!! Você merece somente coisas boas , pois é o que sempre recebemos de você.
AMAMOS VOCÊ DEMAIS
ICE E BETO
Oi tia e tio!! Fiquei muito feliz com o recado de vocês!!! Muitíssimo obrigado pelos parabéns!! Amo vocês também!! =))
O texto está muito bem escrito! Parabéns!
Fico feliz que tenham encontrado uma alternativa viável e que o projeto irá continuar. Esta é a vida: diariamente temos que nos adaptar a barreiras simples outras nem tanto, mas elas estão em tudo e em todos os lugares. Que este lindo projeto expedicionário tragam para vocês a aventura, a bagagem e a incrível experiência de vida que tanto procuram.
Estou torcendo por vocês!
Um abraço, Carla Machado
Oi Carla, isso aí, o projeto tem que continuar!! Muito obrigado pelas palavras =)
Continue na torcida! Forte abraço de nós todos da Expedição 4×1
Dificuldades e mudanças aparecem e precisamos tomar decisões . . . não tem jeito! Faz parte sem dúvida, e agora, mais uma decisão foi tomada! Parabéns!
Só deixo duas coisas como conselho:
1. Saiam com o Bill of Lading em mãos! Não deixem para pegá-lo em Seattle, pois pode acarretar custos extras desnecessários!
2. Cuidado com o Roll On Roll Off . . . infelizmente nós já ouvimos histórias de pessoas que tiveram coisas furtadas dos carros transportando neste esquema. Recomendaria mesmo o transporte dentro do container, mas como já tomaram a decisão, tomem cuidado com o que deixarão no veículo, mesmo as coisas “do lado de fora”.
Aproveitem muito a costa oeste dos EUA . . . é show demais! Boa sorte e boa viagem! = )
Continuaremos acompanhando!
Oi Grace!
Dicas anotadas!! Já entramos em contato com o Gaston (que está cuidando dos procedimentos de exportação do carro) para garantir que pegaremos o Bill of Lading!
Sobre o Roll on Roll Off, estamos na torcida para que não aconteça nada….tiramos tudo de valor do carro…mas sabe como é, né? Ficou geladeira na caçamba, equipamentos de resgate, etc… agora é esperar pra ver!
Beijão e até mais!
FIQUEI SATISFEITA EM SABER QUE VCS CONTAM COM IMPORTANTES COLABORADORES COMO O JOÃO ROGERIO CASTELUCCI, NO SEU COMENT´RIO A SEGUIR, QUE COMO NÓS TORCEMOS POR VCS EM TODOS OS SENTIDOS, SIGUAM COM “MARIA PASSANDO NA FRENTE”. BJS
Oi Geyza, continue na torcida =)
Mais uma vez, obrigado pelos seus comentários! Beijos
Fala rapaziada! Com essa acelerada de vcs vamos chegar juntos no Alasca!!! Keep in touch! Saudações viajantes!
Fala Rodrigo e Ana!! Será que nos encontramos por lá?? Tomara!! Vocês ficam lá até quando? Abraços
Os navios “Ro-Ro” ( Roll In Roll Off ) são seguros e são o modal mais utilizado no transporte de veículos. Vocês tomaram a decisão correta. O custo da viagem deverá encarecer um pouco, mas vai ajudá-los a cumprir o roteiro planejado dentro dos tempos necessários. A exportação temporária da tanajura deve ser feita por profissionais competentes da área de comércio exterior. Como conselho, fiquem em contato constante com a agência que fará o desembaraço. Aconselho solicitar a inspesão da alfândega antes e depois que retomar o veículo. Vocês estão numa área do roteiro das drogas e é bom se precaver!
Oi Rogério, tudo bem? Isso mesmo, fizemos todos os trâmites com uma empresa americana e outra colômbiana, ambas especialistas no assunto e que, por sinal, nos atenderam super bem! Agora estamos acompanhando o navio pela internet e, até o momento, está tudo nos conformes (em termos de datas). Grande abraço!
Meninos boa viagem, aproveitem os dias de sol e se forem passar por Wisconsin até final de setembro estaremos por aqui.
Abraços!
Oi Infinitos,
Os dias de sol estão ótimos aqui na Califórnia!! Puts, acho que vamos acabar não passando por Wisconsin =/ …. depois daí vocês vão pra onde? Nós vamos acabar não fazendo o lado leste dos EUA porque temos uma restrição de 3 meses pra sairmos dos EUA. O Gabriel entrou com o passaporte português e ai não há como extender o visto para mais de 3 meses…
Abraços!
A vida nem sempre é como imaginamos, como planejamos e como queremos, por isto mesmo ela é apaixonante e fica melhor ainda quando vivida intensamente. Não importa qual o caminho, o que importa é que vocês estão seguindo em frente. Parabéns para todos e continuem nos agraciando com lindas fotos e relatos.
Verdade Williams, é isso que faz a vida interessante….se fossem só as coisas planejadas não haveria graça! Obrigado pelos parabéns, grande abraço!!!
Enfim, como sempre, encontramos pedras no caminho!!!!! Ainda bem que são 5 cerebros, além da Tanajura (acho que ela tb tem um, pela convivência!) pensando junto, e vai dar certo!
Pois é Wilma, a Tana sempre surpreende a gente….realmente parece que tem cérebro e personalidade! hehehe. Obrigado pela torcida!
Vai dar tudo certo, meninos! Vamo que vamo!!!
Valeu!! =)