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Acompanhe aqui os relatos, dicas, fotos e vídeos da Expedição 4x1 Retratos das Américas!



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Um começo turbulento, um lar e a história da aviação (Seattle: Parte 1)

Ficha 4×1

Data: 11/09/2012 a 20/09/2012

Saímos de: Portland, OR – EUA

Destino final: Seattle, WA – EUA

Distância total: pouco mais de 275 km

Tempo de viagem: 3 horas e meia.

Trajeto: Seguimos pela estrada principal: I-5N.

Onde dormimos: na casa da família Valentine.

O que comemos de bom: Salmões! Tanto na casa dos Valentine quanto em restaurantes no Public Market. Além disso, o prato com sanduíche de hambúrguer, acompanhado de uma salada de quinua e camarões, no barco dos Valentine.

Pneu Cheio: Sem sombra de dúvidas a experiência de se viver em um lar tipicamente americano na casa da família Valentine! Também vale destacar a visita ao Museum of Flight.

Pneu murcho: Mais uma vez sermos enganados pelas locadoras de carro e o erro do nosso agente aduaneiro que nos forçou a ficarmos mais dias do que deveríamos, sem a Tanajura.

Se tirássemos pelas primeiras horas em Seattle, a experiência que teríamos ali não seria nada amistosa. Fomos para lá com um foco: retirar a Tanajura e seguir para o Alasca. Mas um erro do nosso agente aduaneiro e uma amável família transformaria a experiência em Seattle em uma das mais agradáveis da Expedição até hoje! 

Era uma terça-feira. E às 10h da manhã avistávamos pela primeira vez o Mount Hood, assentado a leste de Portland, no estado do Oregon. Em nossa saída da cidade fomos coroados com um céu aberto que nos permitia, pela primeira vez, avistar a majestosa montanha vulcânica que é um dos cartões postais da cidade. Partimos empolgados rumo ao Norte, para chegar o quanto antes à Seattle, no vizinho estado de Washington (mais especificamente ao Porto de Tacoma). Tínhamos um objetivo: retirar a Tanajura do porto e partir o quanto antes para o Alasca! O motivo? Amigos expedicionários e alguns americanos que encontráramos no caminho nos alertavam que o verão estava acabando e o frio chegara mais cedo no extremo norte do continente.

Navio pela região dos portos de Tacoma e Seattle, WA

Tacoma é uma cidade ao sul dentro da região metropolitana de Seattle. Em poucas horas após a saída de Portland nos encontrávamos no Customs (alfândega) do porto com toda a papelada, conforme orientado pelo nosso agente aduaneiro (o mesmo que tratou de todo o processo da Tanajura desde Cartagena) quando, de repente: tchan tchan tchan!! De acordo com o oficial da aduana, faltava o mais importante dos papeis : umaa carta de autorização do EPA (Environmental Protection Agency)… “Ok, e onde podemos arrumar isso?” – perguntamos. “Fácil, vocês terão que ligar para o Ronald da EPA, em Michigan, e pedir que envie a carta. Ele envia, vocês voltam aqui e retiram o carro.” – respondeu o oficial. Ligamos e… ”…entre 7 a 10 dias úteis para enviar a carta” – avisou o tal do Ronald. Não acreditávamos! Isso poderia nos custar entre 10 a 14 dias em Seattle e o frio no Alasca não iria esperar. Se a neve chegasse com força ao Denali perderíamos a visita ao parque. Não entendíamos como era possível o país tido como o mais prático, desburocratizado e organizado do continente nos prender quase 15 dias em um processo que levamos menos de 5 para fazer na Colômbia.

Documentação para retirada da Tanajura

Corremos para enviar um e-mail ao nosso agente (em Miami) para verificar se aquilo estava certo. Se não havia nada que pudéssemos fazer para acelerar isso. E questionamos o porquê disso não ter sido alertado antes, uma vez que ele sabia dos nossos objetivos do projeto. Afinal, além do tempo perdido, perderíamos dinheiro com as taxas de permanência do carro no porto e na nossa alimentação naqueles dias a mais. Bem, a resposta dele? Mal criada, desrespeitosa e ofensiva. Não vale a pena entrar em detalhes, pois já é página virada e nos chateou bastante. Estávamos agora nas mãos deles (Gaston Etchart – agente de Miami; e Ronald – o agente da EPA em Michigan). Restava-nos aguardar. A terça-feira havia sido longa. Tomamos uma sopa e partimos mais para o norte, rumo à Seattle, para conhecer os Valentine.

Não sabíamos, mas aquela turbulência toda, e a longa espera pela Tanajura, nos traria um grande privilégio mais tarde. É como dizem: “há males que vem para o bem”.

E assim, foi.

Coincidência do destino ou não, chegamos à casa dos Valentine ao mesmo tempo em que a Rebecca (mãe), Alexa (filha mais velha) e a Jaimie (filha mais nova) encostavam o carro. A Rebecca é sobrinha da senhora que acolheu a Geyza (tia do Bruno) quando em seu intercâmbio nos EUA. Assim, Rebecca e Geyza tornaram-se amigas e, anos depois a Rebecca viria passar uns meses com a Geyza no Brasil. Em uma troca de e-mails recente, a Rebecca falou para a Geyza e para o Bruno que poderíamos ficar na casa deles durante o período em Seattle. E assim fomos parar ali, na casa da família Valentine.

Passadas as introduções iniciais, em poucos minutos já nos sentíamos em casa, tamanho carinho e liberdade que elas nos davam. Até o Rilley (o Labrador da família) já estava acostumado com a gente. E mais tarde, então, chegava o James (marido da Rebecca e pai das meninas)! Alegre, espontâneo e comunicativo era a peça que completava aquele harmônico ambiente familiar.

A Rebecca possui uma empresa que realiza mudanças internacionais e, portanto, atividades aduaneiras eram algo corriqueiro em seu dia-a-dia. Ela nos deu algumas dicas e sugestões de como talvez pudéssemos acelerar nosso processo. Saímos no dia seguinte de manhã atrás de outra alfândega e até passamos no escritório do EPA em Seattle. Não adiantou. Teríamos mesmo que esperar o tempo que o Ronald levaria para enviar a carta. E assim partimos pro aeroporto para devolver o ‘Besouro’ – pois findava seu período de locação – e aproveitamos para alugar um novo carro. Afinal, a casa dos Valentine ficava a uns 25 km do centro de Seattle e mais de 40 km do porto de Tacoma. Lá estávamos nós de novo para enfrentar o velho problema das locações de carro nos EUA (como já mencionamos no post de Los Angeles) A novela começava: preço diferente do negociado por telefone, Informações enganosas, aborrecimento, ameaça de mudar de locadora, negociação com outra locadora, derrubada no preço, oferecimento de carro melhor, horas, horas, e mais horas e finalmente conseguimos um ótimo preço e um bom carro (que era o que menos importava).

Era hora de aproveitar a cidade e relaxar uns dias em Seattle…

Chegamos à casa e a primeira grande surpresa: A Rebecca havia nos feito um maravilhoso jantar: Salmão grelhado, arroz com quinua, salada e vinho! A Alexa (filha mais velha) não estava mais na casa, pois havia retornado para a Califórnia, onde faz faculdade. Mas além de nós, a Rebecca havia convidado seu sócio, um mineiro gente boníssima chamado César. E a conversa foi até altas horas!

A Rebecca e o César no jantar muito haviam comentado sobre a casa do César à beira do Lago Washington. E após o convite do César, fomos passar a manhã e o início da tarde em sua casa, mesmo ele não estando lá. Uma belíssima casa construída com ambientes em diferentes níveis e uma magnífica vista para o lago. Ficamos ali sentados no deck de frente para o lago conversando por algumas horas e apreciando o sol (que aparentemente é algo raro em Seattle, mas que nos cortejou quase todos os dias em que estivemos na cidade)

Localizada dentro de um istmo (faixa de terra) entre um estuário (braço de mar formado por baías, bacias e canais) do Oceano Pacífico e o lago Washington, Seattle sempre foi uma importante cidade portuária. A cidade, que teve na atividade madeireira seu início (a partir de 1852), crescia de forma desorganizada e sem muito planejamento. Escoava sua produção através de navios, basicamente para São Francisco – CA e, assim tornou-se celeiro de prostitutas, bebidas e jogos de aposta – por serem “atrativos” para marinheiros e madeireiros. Mas a partir da descoberta do ouro nos territórios do Yukon (no Canadá) e Alasca, iniciou-se uma frenética corrida pelo ouro naquela região. Assim, a partir de 1987, a cidade soube aproveitar o momento e suas águas serviram, também, de trampolim para os desbravadores que iam, pincipalmente, para o Alasca! (estão vendo! Não foi só a gente :) ) Esse período trouxe grandes investimentos e os primeiros passos para o desenvolvimento de uma infraestrutura mais planificada no porto e na cidade, ao final do século 20…

Navio saindo do porto de Seattle e ao fundo a Space Needle

E a Expedição 4×1 também iria ter seu momento naquela histórica baía! Saímos da casa do César e seguimos para o píer K, na marina de Seattle, onde estavam nos esperando James, Rebecca e Jamie para nos levar em um passeio pelas águas de Seattle no barco da família. Incrível!!!

Pier K – na marina onde estava o barco dos Valentine

Partimos. Ao nos afastarmos da costa de Seattle, o Sol deitava-se lentamente por detrás dos morros na baía e seus raios pintavam de dourado os arranha-céus da cidade, a roda-gigante e a Space Needle (um dos cartões postais da cidade). Tudo parecia como feito de ouro! Ficamos horas batendo papo com a vista da baía ao nosso redor (e aquilo era numa quinta-feira!!!)

Até que a Rebecca nos preparou o mais delicioso prato de sanduíche de nossas vidas! Um suculento hambúrguer servido com queijo derretido e servido num prato com uma salada de quinua coberta com camarões e acompanhada de tomates e azeitonas pretas! Perfeito!!

A Expedição 4×1 com a pequena Jaimie

Uma pena que a cidade estava com uma névoa de fumaça fina que nos impedia de ver o Monte Rainier, ao fundo daquele magnífico visual.

Retomando a história de Seattle… Anos após o crescimento econômico com a corrida do ouro – e sua consequente queda após esse ciclo – o Atlântico estava em guerra, devido ao início da 1ª Guerra Mundial. Isso possibilita ao Pacífico vislumbrar um aumento em seu comércio e grande desenvolvimento da indústria naval. Seattle entra mais uma vez em cena sendo o principal porto da costa oeste no comércio com a Ásia. Mas uma forte greve em 1934, provocada indiretamente pela quebra da bolsa em 1929, gera um novo caos em Seattle e a cidade perde o posto de principal porto comercial com a Ásia, para a cidade de Los Angeles. A cidade, então, viria a vislumbrar um novo crescimento econômico quando um milionário empresário da indústria de barcos, de nome William “Bill” Boeing, resolve investir em uma de suas paixões: a aviação. E assim, em meio a 1ª Guerra Mundial, surgia uma das principais indústrias aeronáuticas dos tempos modernos: a Boeing. Com suas principais fábricas até hoje na região de Seattle, a cidade passaria a ter, em anos posteriores, seu desenvolvimento ou declínio intimamente ligado ao da empresa; e a aviação tornou-se ainda hoje um tema de grande relevância na cidade…

E, assim, na manhã seguinte ao passeio de barco, partimos para visitar uma das principais atrações de Seattle: o Museum of Flight (Museu do vôo, em uma tradução livre). O museu busca retratar os principais marcos da tentativa do homem em voar, salientando figuras importantes da história da aviação, desde seus pioneiros – que encaixavam asas ao seu corpo – até a aviação em seus dias atuais com foguetes e caças supersônicos.

O museu também possui o galpão onde foram construídos os primeiros aviões da Boeing e dentro dele é contada toda a história da empresa. Há ainda um pátio externo, enorme, onde ficam algumas aeronaves especiais da Boeing, como o primeiro 747 a voar! e o 707 usado como Air Force One (nome dado à aeronave que transporta presidentes americanos) pelos ex-presidentes Eisenhower, Kennedy, Johnson e Nixon, estando lá hoje e aberto para visitação. Há também um aposentado Concorde, usado pela British Airways, também para visitação.

Boeing 707 usada como Air Force One pelos presidentes Eisenhower, Kennedy, Johnson e Nixon

Alugamos o áudio-guia e ficamos mais de 4 horas lá dentro do museu – e daria para ficar até mais de tão interessante que era toda a história da Boeing e da aviação. O mais triste e desapontador, no entanto, é o museu não mencionar NADA, absolutamente NADA, sobre Santos Dumont ou o 14-bis. Fomos perguntar a um dos guias sobre o início da história da aviação e questionamos sobre a ausência do brasileiro. Mas o próprio guia informou que nada havia sobre ele e que acreditava ser por questões “bairristas”, a fim de reforçar o destaque aos irmãos Wright – os quais os americanos acreditam serem os primeiros a terem voado.

A Boeing é hoje a maior fabricante de avião de passageiros, mas apesar do que imaginávamos a história não começou bem assim. Aconteceu que ‘Bill Boeing’ além de um entusiasta da aviação acreditava que a América deveria estar preparada para um eventual ataque aéreo durante a segunda guerra mundial. Numa curiosa passagem, ‘Bill’ sobrevoou um estádio de futebol americano lotado – em seu avião particular – soltando “bombas” de cartolina sobre o estádio, numa forma de alertar a vulnerabilidade norte-americana a um eventual ataque aéreo! Claro que não por esse evento, mas anos depois com o início da Segunda Guerra o Governo americano encomendaria diversos aviões militares da empresa e, assim, Seattle voltava a um enorme crescimento econômico. Fica a dúvida de como se deu a influência (se é que houve) da Boeing para que os EUA entrassem na Segunda Guerra. Fato é que após a queda nas vendas dos aviões militares no final da guerra do Vietnã, somado às dívidas com o projeto do 747 e uma recessão no país no final da década de 60, a Boeing sofreu um grande impacto. A partir desse período a empresa passa a focar no emergente mercado de jatos comerciais, através do sucesso com o modelo ‘707’, e tornando-se o que é até os dias de hoje!

Após a visita ao museu da aviação seguimos para casa para colocar coisas em dia. Lavamos roupas e pedimos uma pizza…

…CONTINUA…

7 Comentários

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  • Gisèlle Says

    Meninos…realmente “nada é por acaso”, embora toda a burocracia com a liberação da Tanajura tenha chateado vcs… a oportunidade de conhecer a Família Valentine fez toda a diferença!!!
    Rebecca, James, Jamie e Alexa tem um lugar especial e agora também fazem parte da historia da Expedição 4 x 1 Retratos das Américas.
    Pessoas especias assim como vocês!!!
    Boa Viagem… sempre !!!

    • 4x1
      4x1 Says

      Oi Gisèlle, concordamos plenamente. Se por um lado tivemos que nos aborrecer um pouco a mais com o desembaraço da Tanajura, por outro ganhamos muito ao termos tido a oportunidade de conhecer e viver com a família Valentine!!
      O saldo foi extremamente positivo!
      Um grande abraço de todos nós!

  • Lívia Says

    Olá, acompanho alguns posts de vcs, sempre que posso, gostaria de parabenizá-los por tantas informações legais que nos passam e pela forma super clara e interessante que escrevem, parece que estamos viajando junto com vcs! Boa viagem, continuamos acompanhando aqui do Brasil

    • 4x1
      4x1 Says

      Que legal que os posts tem sido informativos e que te permitem viajar um pouquinho conosco!! Ficamos verdadeiramente contentes com isso… cada vez que ouvimos isso é como se um dos objetivosd da Expedição 4×1 eteja sendo cumprido!!
      Muito Obrigado!! Beijos

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