Ficha 4×1
Data: 17/07/2012 a 27/07/2012
Saímos de: Belém – PA
Destino: Manaus – AM
Tempo de viagem: 6 dias, de catamarã, a viagem descrita no post anterior
Onde dormimos: No Boutique Hotel Casa Teatro, em Manaus, e no Hotel Ariaú, na selva.
O que comemos de diferente: Inúmeros pratos exóticos regionais, como jacaré e tartaruga, no restaurante O Lenhador, e saunduíche de tucumã com queijo, encontrado facilmente pelas ruas da cidade.
Pneu cheio: Assistir a abertura do Festival Amazonas de Jazz no Teatro Amazonas e ficar 3 dias na selva. Como ficamos vários dias em Manaus não conseguimos escolher um pneu cheio apenas. Assistir a uma apresentação memorável de jazz dentro de um dos mais importantes teatros brasileiros foi indescritível, assim como ter a oportunidade de visitar a selva amazônica de perto.
Pneu murcho: Potencial não aproveitado da cidade para o turismo. Pudemos notar um certo descuido em relação a limpeza e conservação de algumas áreas. O centrinho, onde fica o Teatro Amazonas, é bem arrumado, mas se afastando algumas quadras já pode-se encontrar uma realidade não muito amigável ao turista. Pelo que vimos, planeja-se solucionar muitos desses pontos até a copa de 2014.
(Em breve disponibilizaremos o vídeo sobre nossa experiência em Manaus!)
Chegamos a Manaus depois de 6 dias de travessia no catamarã Rondônia, numa terça-feira, dia 17 de julho. Chegamos cedo e imaginamos que os trâmites para retirarmos a Tanajura do barco seriam fáceis, afinal já havíamos consultado a tripulação anteriormente e nos informaram que seria apenas tirar o carro e ir embora. Felizes por finalmente termos chegado a Manaus, saímos do barco e fomos comer algo no porto enquanto retiravam a carga. Quando voltamos, qual não foi a nossa surpresa quando percebemos que o catamarã estava baixo demais em relação ao porto e que, daquela maneira, a Tanajura nunca sairia (pelo menos inteira). Ficamos indignados! Não aguentávamos mais aquele barco e tinham acabado de nos informar que seria necessário esperar a retirada de todo o resto da carga, na esperança de o barco subir após isso e então conseguirmos resgatar nossa fiel companheira. Ah, esse processo de retirada começaria às 11h, terminaria aproximadamente às 16h e ainda eram 9h.
Sem ter muito o que fazer quanto ao que nos foi dito, nos dividimos e enquanto uns acompanhavam a movimentação no porto, outros foram pesquisar os passeios oferecidos pelas agências de turismo da cidade. Depois de muita pesquisa optamos por passar 3 dias na selva partindo já no dia seguinte, com a agência Iguana Turismo, onde conversamos com o Wilson, gente boníssima. No fim da tarde a Tanajura foi libertada, como previsto, e nos reencontramos para jantar com o senhor Décio, amigo do Gustavo, que nos levou para saborear um delicioso peixe na Peixaria do Juvenal, enquanto nos dava várias dicas para atravessarmos a Venezuela. Depois do jantar, procuramos um estacionamento para dormir (apesar de soar estranho, tudo o que precisamos para passar a noite é um lugar seguro, pois temos as barracas na Tanajura e podemos dormir praticamente em qualquer lugar).
Na manhã do dia seguinte, 18 de julho, encontramos com nosso guia, Mateus, pegamos uma lancha rápida, então uma kombi e aí uma canoa e depois de 3h de deslocamento chegamos ao pequeno hotel que nos serviria de base para os 3 dias de passeio que realizamos na selva, sendo recebidos com um farto e saboroso almoço servido em seu restaurante rústico mas bastante aconchegante.
Neste primeiro dia fizemos, na parte da tarde, um passeio de barco pelos igapós (áreas de floresta alagada pelas chuvas) e igarapés (braços de rio) da região e também uma pescaria de piranhas (que chamamos mais de “alimentação de piranhas”, pois elas sempre conseguiam tirar a isca sem se prender no anzol!). Navegamos por horas acima de áreas que estavam alagadas devido às chuvas e é inacreditável observar que a água está na altura da copa das árvores.
Ainda nesse dia, na parte da noite, realizamos uma focagem de jacarés, em que nosso guia Mateus além de conseguir encontrar os animais à noite, ainda conseguiu pegar um deles para vermos de perto, antes de soltá-lo novamente à água.
Na quinta-feira, 19 de julho, acordamos cedo para pegar uma canoa e assistir a um incrível nascer-do-sol, visto do meio dos igapós. Depois tomamos café-da-manhã e partimos para uma caminhada de 4h na densa selva amazônica, assistidos pelo nosso guia Mateus. A sensação de que a floresta tem vida é muito clara. São milhares de sons e aromas a todo instante que você está lá. Pode-se comprovar de fato aquilo que aprendemos na escola de que a floresta amazônica se auto-sustenta, através de cliclos de vida em que os nutrientes e recursos são sempre reaproveitados e extremamente importantes para o que está nascendo. O solo em si da região não é rico, o que alimenta a floresta é a própria floresta.
Durante a caminhada o Mateus foi nos mostrando como os nativos da região fazem uso dos recursos da floresta, aproveitando folhas para fazer redes, para soluções medicinais, para basicamente tudo o que precisam. Até retirou de um coquinho uma larva que serve de alimento para os nativos, rica em proteínas, que o André comeu.
Depois da longa caminhada, voltamos para mais um saboroso almoço, descansamos um pouco e saímos para a mata novamente, pois naquele dia iríamos montar acampamento no meio da selva para dormir e vivenciar mais profundamente a vida na floresta. Fomos nós 5 da Expedição, 1 casal de alemães, 1 casal de holandeses e nossos guias. Chegamos ao local onde dormiríamos por volta das quatro e meia da tarde e já começamos a preparar o jantar e montar o acampamento: anoiteceria em duas horas e é mais fácil já deixar tudo preparado enquanto se tem a luz do sol. Cortamos alguns galhos para a fogueira, montamos as redes (dormimos em redes nessa noite), jantamos e nos preparamos para o já anunciado ataque de mosquitos que acontece na selva ao anoitecer e amanhecer. Estávamos de calça, camisa de manga comprida e passamos, inclusive sobre as roupas, os repelentes que havíamos comprado, que eram os melhores disponíveis no Brasil.
Os mosquitos vieram e a batalha começou. Mas esses não eram simples mosquitos, eles eram praticamente mutantes, nunca tínhamos visto algo igual nas nossas simples vidas urbanas! Além de muito maiores, eles praticamente ignoravam o repelente e picavam também através das roupas! Cada picada doía como uma pequena agulhada e não tínhamos como combater de volta, eram muitos. Derrotados, fomos dormir em nossas redes já montadas com mosquiteiros, afinal seria impossível dormir como banquete de mosquitos. Indo dormir, nos deparamos com uma ilustre companheira que estava debaixo do rústico teto de folhas que servia de cobertura para as redes: uma tarântula, do tamanho de uma mão aberta, que estava atrás de mariposas. Apesar do medo de alguns, também não tínhamos muito o que fazer, afinal ela não estava atrás de nós e atacá-la só provocaria ira no bicho, que por sinal é venenoso. Deixamos o aracnídeo ali e fomos dormir com o máximo de cuidado para não levar nenhum mosquito para dentro da área do mosquiteiro das nossas redes, tarefa que uns conseguiram realizar com maestria e dormiram tranquilamente, enquanto outros não tão cuidadosos passaram a noite sendo atacados.
No dia seguinte, 20 de julho, acordamos cedo, desmontamos o acampamento e fomos fazer uma visita a casa de um nativo, onde tomamos café-da-manhã e pudemos ter uma rápida conversa com os moradores da região, em uma casa de palafita que assiste anualmente ao sobe e desce das águas na região amazônica, sendo vítima de tal movimento em alguns anos.
Voltamos novamente ao pequeno hotel, onde almoçamos e nos despedimos da selva, pegando novamente o caminho de volta através de canoas, kombis e lanchas, cansados pela intensa experiência, mas satisfeitos.
Uma coisa que pudemos perceber é a forte presença (praticamente 80% dos visitantes) de estrangeiros nesse programa que fizemos pela mata. O que parece é que este potencial turístico é muito mais divulgado lá fora do aqui mesmo no Brasil. Ou talvez o interesse turístico do brasileiro esteja mais voltado para outros destinos, enquanto que os estrangeiros procuram destinos brasileiros. Independente de qual seja a causa, na amazônia existe um potencial turístico gigantesco não utilizado, para o qual nós, brasileiros, deveríamos prestar mais atenção.
Voltamos para Manaus e procurando um lugar para ficar nos próximos dias. Depois de produrar um pouco, conseguimos fazer contato com a Sra. Cláudia Mendonça, simpática proprietária do Boutique Hotel Casa Teatro, que nos proporcionou 5 agradáveis noites de hospedagem em seu hotel, enquanto conhecíamos melhor a capital do maior estado Brasileiro. Como ficamos localizados bem no centro de Manaus, ao lado do Teatro Amazonas (provavelmente a atração turística mais famosa de Manaus), em poucos minutos podíamos acessar pontos turísticos importantes e isso nos poupou bastante tempo (também porque o trânsito em Manaus, como em qualquer metrópole brasileira, é complicado). No hotel Casa Teatro montamos uma base para a Expedição 4×1: tínhamos um ambiente acolhedor, atendimento ótimo, café-da-manhã excelente e, principalmente, internet.
Dividimos esses 5 dias entre visitar a cidade e trabalhar no projeto, vendo tudo que tínhamos que ver sobre o envio do carro de navio a partir da Colômbia (e todas as possibilidades que teríamos), escrevendo e atualizando o site. Pelas nossas caminhadas por Manaus, passamos pela Praça da Saudade, Palacete Provincial, Palácio Rio Branco, Catedral e Mercado Municipal Adolpho Lisboa, da foto abaixo. Ah, outra coisa interessante que aconteceu em Manaus foi a entrevista que demos para o Jornal A Crítica! A simpática jornalista Cassandra foi até o hotel e passou um bom tempo conversando conosco! No dia seguinte ficamos super contentes e surpresos, ela produziu três excelentes matérias sobre a Expedição 4×1 (clique aqui para ler)!
No mercado pudemos ver a variedade e riqueza de itens vendidos, como castanhas-do-pará, pó de guaraná, cacau prensado, tudo preparado pela própria população local.
Em um dos dias tivemos o privilégio de almoçar no restaurante O Lenhador, cujo cardápio era incrivelmente variado e cheio de comidas típicas. Experimentamos pratos muito saborosos, incluindo receitas feitas com tartaruga e jacaré, mas apesar da surpresa, a proprietária do restaurante nos explicou que todos os animais são criados pelo próprio restaurante com autorização do Ibama.
Visitamos o lendário Teatro Amazonas: inaugurado em Manaus em 1896, no auge do Ciclo da Borracha, ele reflete o modo de viver da região naquela época, com a cidade sendo praticamente uma parte da Europa no Brasil. Inclusive, devido a borracha, Manaus foi a segunda cidade brasileira a receber energia elétrica e já foi chamada de a Paris dos trópicos. O teatro já passou por restaurações e hoje encontra-se muito bem conservado, com visitas guiadas diárias para os que desejarem ver sua estrutura por dentro. Estrutura essa que merece destaque: dentro do teatro podem-se encontrar lustres com cristais vindos direto de Murano, na Itália, e peças de mármore de Carrara. O piso do Teatro em alguns pontos é mesclado entre tábuas de madeira claras e escuras, simbolizando o encontro das águas dos rios Negro e Solimões, tudo feito com muito cuidado e conservado com perfeição.
Para a nossa sorte, na semana em que estávamos em Manaus teve início o 7º Festival Amazonas de Jazz que aconteceu no Teatro Amazonas, com apresentações todas as noites do dia 24 a 29 de julho. Fomos convidados pela assessoria de imprensa da secretaria da cultura de Manaus, representada pelo Sr. Marcelo Guilherme, para assistir ao dia de abertura do festival que teve duas memoráveis apresentações: a primeira com a Amazonas Band e depois uma mega performance do Zimbo Trio, tudo isso em pleno Teatro Amazonas. Indescritível. E, como se não bastasse, ainda fomos entrevistados pela TV Globo local (clique aqui para assistir) e pelo Portal Amazônia (clique aqui para ver a matéria).
Na manhã da quarta-feira, 25 de julho, resolvemos partir rumo a Venezuela. Arrumamos as coisas, colocamos no carro e fomos comer algo rápido antes de pegar estrada, afinal já eram duas da tarde. Comendo um sanduíche no estacionamento do McDonald’s, recebemos a ligação do Sr. Marcelo Guilherme, assessor do Teatro Amazonas, que já havia sido assessor do Hotel Ariaú, com um convite. Ele tinha acabado de contactar a proprietária do hotel e estava tudo acertado para ficarmos 2 noites lá. Precisávamos apenas definir como chegaríamos ao hotel, se por terra ou rio. Refizemos nossos planos e fomos até o escritório do hotel, que fica dentro de Manaus, e fomos super bem recebidos pela Ellen Rita, proprietária do hotel. Depois de um bom papo e algumas dicas da Ellen, seguimos para o Ariaú Tower, único na sua concepção arquitetônica, por ser construído sobre palafitas de madeira, com alguns quartos construídos à altura da copa das árvores.
A chegada realmente impressiona em função da grandiosidade e harmonia que existe entre as construções e a mata. Logo que descemos do barco, nos deparamos com uma série de macaquinhos que ficavam ao redor da piscina brincando com os hóspedes, tanto crianças como adultos. Durante os dias que estivemos lá fizemos alguns passeios de selva que já havíamos feito antes, mas que valia a pena repetir. Na caminhada pela mata, aprendemos como montar uma armadilha para capturar animais, vimos uma formiga cuja picada pode dar febre e que faz parte do ritual da passagem para vida adulta de jovens em determinadas tribos indígenas, além de plantas utilizadas para fazer telhados de casas, sendo que algumas delas foram transformadas em leques e enfeites de cabeça em questão de minutos pelos guias. Fizemos durante uma das noites a tradicional focagem de jacaré, só que dessa vez tomamos um susto, já que o guia repentinamente saltou do barco em busca do jacaré. Em questão de segundos ele estava de volta ao barco com um filhote de jacaré em mãos e todos que quiseram puderam segurar e tirar fotos com o pequeno animal que media cerca de 60 cm. Durante a tarde de quinta-feira, 26 de julho, fomos para o mais esperado passeio oferecido pelo Ariaú, que era a fotografar e nadar com os botos. Ao nos aproximarmos do píer, já foi possível avistar os botos indo até a superfície em busca de ar. Como éramos muitos, nos dividimos em 3 grupos de dez pessoas para entrar na água com os botos. A estrutura contava com um tratador, que possuia muitos quilos de peixe para poder atrair os animais para mais perto. Como forma de equilibrar a alimentação do boto, o Ibama só permite essas visitas durante 3 dias da semana.
Com o balde de peixes na mão do tratador, não tinha segredo. Os botos passavam por debaixo de nossos pés, e vinham ao nosso lado com sua pele, que até parece de borracha, em busca de alimento. Alguns deles tiravam quase seu corpo todo da agua para buscar o peixe na mão do tratador. De fato foi o passeio mais interessante dentre os oferecidos pelo hotel. Para nós foi uma surpresa muito boa ter conhecido o Ariaú, um ótimo lugar para crianças, para relaxar com a família, mas, acima de tudo, para qualquer um que queira um contato mais intenso com a Natureza, sem abrir mão da estrutura de um hotel tradicional.
Nossa passagem por Manaus foi longa, foi praticamente o destino em que mais ficamos até agora, um misto de preparação para a saída do país e conhecimento da cidade e da selva. De Manaus rumamos à Venezuela, parando em Boa Vista para dormir. Brasil agora só na volta, quando estivermos no finalzinho da Expedição 4×1. Que venha o desconhecido!
Para mais fotos de Manaus, clique aqui!
10 Comentários
Parabéns!!! Linda viagem!! estou pegando muitas dicas já que em dezembro vou fazer uma viagem de moto com meu marido partindo de Salvador – Rio Branco -(interoceânica) Peru – Bolívia – Colômbia – Venezuela retornando por Manaus!! Sorte e espero que gostem da Venezuela!! Sou venezuelana e moro em Salvador faz 15 anos!!! Keep going!!!
Oi Maite! Po, que legal a sua viagem!! De moto ainda….muito interessante!! Quanto tempo vocês pretendem ficar na estrada? Abraços da Expedição 4×1!
Querer é poder e vocês estão provando isto cruzando todos os tipos de caminhos, mostrando para muitos de nossos jovens que a vida não se resume a assistir a tudo numa tela de vídeo. Para você que está acompanhando a viagem destes cinco jovens e pensa em fazer o mesmo, não perca tempo e vá. Se não tem carro vá de bicicleta ou como mochileiro, mas vá. Não tem dinheiro no mundo que paga uma experiência como esta.
Oi Williams, quanta honra ler tudo isso que você escreveu! E temos que concordar, uma experiência dessas não tem preço mesmo!
Estao todos de parabéns,o site está muito bem montado assim como a sequencia de fotos no flick do yahoo.A ditatica e descrição dos lugares por onde passaram está bem esclarecedora e informativa.
Continuem aproveitando.Abraços a todos.
Luiz Maranhào
Obrigado Luiz!! Ficamos muito felizes com os elogios!
Quantas coisas bacanas, heim!!
Obrigado pelo comentário, Carmen!!
TARÂNTULAS, MOSQUITOS, PIRANHAS!!!!!
AGORA VCS IRAM DE ENCONTROS AOS
U-R-S-O-S ETC…. MAS OLHEM LÁ HEIM,
NÃO É O ZÉ COLMEIA!!!
hahahaha!! Pois é, os ursos que nos aguardem!!! =)